sexta-feira, 6 de março de 2015

1 não é o aluno quem faz a escola

Dizer que o aluno faz a escola é a maior mentira que se pode dizer dentro de uma escola. Isso pra mim tem nome. Quem quer que diga isto está tentando jogar a responsabilidade nas costas dos alunos, para que o seu fracasso como educador seja justificado.

Estudo em uma escola técnica estadual de São Paulo, uma ETEC, mais especificamente no Fernando Prestes. Sou um entusiasta e que quer tentar mudar o mundo através da educação. Mas se algum dia eu quiser mudar algo, terei que ser no mínimo um professor. A EDUCAÇÃO BRASILEIRA É FALIDA!! 

São professores sem didática que ensinam com os mesmos métodos do século passado, são professores mal-preparados que por motivos do destino não podem ser demitidos e continuam por gerações lá atrapalhando o desenvolvimento do país. São currículos engessados que roubam alunos durante 11 anos, que pretendem ensinar desde as mais fundamentais partículas da matéria passando por ensino de língua estrangeira em turmas de 40 alunos, são currículos que ousam querer ensinar desde genética a  números complexos mas que fracassa em tudo isso.
Hoje é necessário Ensino Médio para a maioria das profissões por aí, mesmo aquelas que um analfabeto poderia desempenhar. Também são talentos da ciência que são obrigados a assistir aulas de conteúdos cuja matérias já dominam. Cursar o Ensino Médio serve para facilitar na hora de escolher currículos ou então para ver quem coleciona mais conhecimento para um vestibular. Se quero passar em um vestibular não basta fazer o Ensino Médio: tenho que fazer três anos de ensino médio além do cursinho para o conteúdo que supostamente eu deveria ter aprendido no Ensino Médio e o ENEM vai cobrar.

E no Centro Paula Souza a coisa é ainda mais ridícula. A menina dos olhos do Governo do Estado oferece apenas 5 aulas por dia para seus alunos, que chegam ao ridículo de ter 3 aulas de português por semana, e a terem duas línguas estrangeiras diferentes. São professores não se adaptaram aos anos 2010, de salas de aula com alunos com celular que insistem em ditar matérias e pedir para copiar enunciado de questões. Se o Centro Paula Souza faz algo é reunir alunos diferenciados com alunos diferenciados e lhes dar uma educação ridícula, sem ao menos lhes oferecer merenda, e então lhes oferecer aulas de baixa qualidade com currículos e professores de má-qualidade. Se o Fernando Prestes tem o 13º melhor ENEM em 2013 muito é devido aos talentos retirados das outras escolas que muitas vezes fizeram cursinho ou estudaram por fora, porque se existisse alguma maneira de verificar a qualidade do ensino blindada desses fatores externos seriam poucas as matérias em que a minha escola seria boa.

Se eu pudesse decidir as aulas que eu realmente sinto prazer ou real necessidade em estar dentro da aula assistindo e matasse as outras, provavelmente eu repetiria de ano.

Quando se questiona equipes gestoras, sejam elas na escola que for, primeiro vem os direitos dos funcionários e professores, nunca os dos alunos. Escola é um dos únicos lugares onde quem usufrui (cliente dos serviços pela escola prestado) não tem direito a cobrar um serviço de qualidade. Eles pedem que você faça a escola, mas na realidade o que querem é que cale a boca, assista as péssimas aulas por eles dada e vá embora, sem encher o saco. Um sistema falido onde até pessoas que acreditam estar fazendo algo para mudar, continuam a apenas ir dia após dia a escola enquanto se enganam ao estarem "fazendo algo para mudar a educação".

A verdade que este texto é um desabafo. Desabafo por estar com pouquíssimas aulas que sinto que são úteis de se assistir, desabafo pela merenda que está prestes a sair, desabafo por professores que estão a sair e um desabafo por estar vendo o que o sistema faz com pessoas talentosas roubando tantas horas da vida delas.

Sobre o autor:

Matheus, 16 anos. Estudo o ensino médio em Sorocaba.
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1 comentários:

  1. Olha aí, o Popst de 3 anos atrás era um crítico da educação... Bacana o relato. Desses antigos, acho que foi o texto que eu mais gostei. No ensino fundamental e médio estudei em boas escolas privadas, distante dessa realidade. Mas fiz 1 ano e meio de universidade pública... Com algumas adaptações, sua crítica cabe muito bem para as universidades públicas. Resgate esse espírito anti-establishment do menino Popst!

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